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terça-feira, abril 02, 2013

A aterrissagem dos pés

Segue texto de minha autoria que foi publicado em 01/fevereiro/2013 no site Corrida Natural.
 

A aterrissagem dos pés 

(e minha teoria sobre a dor no topo do pé)

Neste texto vou considerar como natural apenas a mecânica de corrida na qual o antepé (ou mediopé) é a primeira parte a tocar o solo. Vou desconsiderar o estudo que encontrou a pisada iniciando pelo calcanhar em populações descalças. Inclusive tal estudo já foi tema de post anterior do Sérgio Rocha, bem como, já foi tema de post, também dele, entitulado “A tal dor no topo do pé“, para a qual apresentarei minha opinião.

   Pois bem, a mecânica começando com o antepé está tão associada a corrida descalça que esta é descrita, de forma simplista, como correr na ponta dos pés ou correr com a frente dos pés. Tal descrição induz nos iniciantes duas oportunidades para tensão desnecessária nos pés. Primeiro acredita-se que o calcanhar nunca deve repousar no solo. Segundo que devemos aterrissar com os dedos. A primeira induz o corredor a permanecer todo o tempo do contato na região da almofada (bola) dos pés. Isto é um fator de stress para a panturrilha e o tendão de Aquiles. A segunda induz o corredor a apontar os dedos em direção ao chão antes do contato. Está errado. As dedos ficam naturalmente curvados para cima antes e no início do contato com o solo e, assim como o calcanhar, devem repousar no momento posterior. Apontar os dedos para baixo vai produzir bolhas e,  acredito, pode até mesmo quebrá-los! Por outro lado, não deixá-los  tocar o chão depois da aterrissagem, vai criar tensão desnecessária na musculatura extensora e/ou flexora dos dedos.
   No livro “Barefoot Running Step by Step”, Ken Bob Saxton dá uma grande ênfase a aterrissagem dos pés. Ela se inicia pela almofada, com os dedos curvados para cima. A seguir o calcanhar toca o solo quase simultaneamente com os dedos. É a sequência almofada/calcanhar/dedos (sequência 1-2-3). Usando-a você evita o que Ken Bob chama de “efeito ventosa”. O que seria este efeito? Bem, o arco do pé funciona como uma mola e é achatado ao suportar o peso do corpo. Se você aterrissasse com os dedos e calcanhar primeiro, o arco, ao ser achatado, iria empurrar os dedos para frente e o calcanhar para trás provocando fricção na pele dos mesmos e levando a bolhas.
   Ken Bob não sabe dizer se curvar os dedos para cima é algo natural, mas que pode ser instintivo. De fato, ele não deu tanta importância a este detalhe da técnica até a sua décima-nona maratona. Na oportunidade, devido a fadiga, o “instinto” não estava funcionando e bolhas começaram a surgir nos dedos. Aí ele “aprendeu” a levantá-los conscientemente e evitou a formação das bolhas.
   Indo além do guru, minha opinião é que este movimento é natural sim e está além de uma resposta apenas instintiva. Penso desta maneira, pois nunca me atentei para este detalhe da técnica até ler o livro do Ken Bob no final de 2011. Também, como disse em post anterior, não gosto de correr mentalizando a técnica e nunca corri pensando neste detalhe. No entanto, quando vejo fotos minhas anteriores (e posteriores) a esta data, me observo realizando o movimento de levantar os dedos (veja aqui). Mesmo usando uma huarache bem fininha, me vejo fazendo este movimento, como no final deste vídeo.

   Bem, aqui vem minha teoria sobre a dor no topo dos pés. Não fiz nenhum estudo, é só minha percepção e baseada nos relatos de que descalços, e usuários de huarache, quase não apresentam tal dor mas que ela é relativamente comum em quem inicia usando VFF e outros minimalistas fechados. De fato seria falta de fortalecimento da musculatura extensora intrínseca e extrínseca dos dedos. Como considerei o movimento de curvar os dedos para cima como natural, descalços, usuários de huarache e usuários de tênis minimalista tentarão realizá-lo durante a corrida. Em quem usa huarache ou está descalço, tal movimento será realizado sem resistência. Por outro lado, no VFF ou nos tênis minimalistas o cabedal destes promoverá uma resistência ao movimento dos dedos, ou seja, será necessário maior força da musculatura extensora do dedos.
E você? Qual a sua experiência?